sábado, 16 de julho de 2016

Frida Vingren: seu esquecimento e morte


Frida Vingren (1891-1940): quando uma missão vale 

mais que a vida



O lançamento da biografia da missionária Frida Vingren editado pela CPAD foi aguardado com muita expectativa pelos estudiosos da história das Assembleias de Deus no Brasil, pois muitas informações sobre a pioneira, seu ministério e as polêmicas envolvendo seu nome já eram conhecidas através dos escritos do sociólogo Gedeon Alencar, o qual desde fins dos anos 90 tem resgatado a memória da senhora Vingren.

Alencar fez uma extensa pesquisa sobre Frida como parte da sua tese de mestrado e doutorado. Em 2009 já havia publicado um artigo na revista Religiões em Diálogo intitulado Frida Vingren (1891-1940): quando uma missão vale mais que a vida - e nesse texto detalhado a atuação da mulher de Gunnar Vingren nas ADs e a oposição ao seu ministério. Em sua tese de doutorado, o sociólogo teve a ajuda da jornalista Kajsa Norell, que lhe deu vários livros, jornais e cartas dos suecos digitalizados lhe auxiliando grandemente na pesquisa. Dessa forma, novos detalhes foram incorporados e, o espanto sobre os acontecimentos aumentando.

Frida, os filhos e Gunnar: ele lembrado sempre, ela esquecida por décadas
O livro editado pela CPAD, diga-se de passagem, mesmo sendo uma versão oficial - tem seus méritos - e através dele pode haver uma complementação e aprofundamento de algumas questões trabalhadas na acadêmia. Isael de Araújo teve como fontes de informações, além dos arquivos do Centro de Estudos do Movimento Pentecostal (Cemp), depoimentos dos filhos e netos de Gunnar e Frida Vingren feitos em sua viagem a Suécia em 2008.

É através desses depoimentos, que o autor procura tirar uma dúvida cruel - dúvida essa levantada por ele mesmo no Dicionário do Movimento Pentecostal - Frida teria sido abandonada num manicômio, morrido e sepultada como indigente? Pelo testemunho dos filhos a resposta é não. Na verdade, ela teria tido períodos de internação, com idas e vindas, onde sua situação foi ficando cada vez mais crítica. Os filhos teriam tentado cuidar da mãe até o seu falecimento.

Apesar da escrita ser feita em tom conciliatório (ao contrário de Gedeon que é polêmico), Isael de Araújo descreve momentos que revelam as dificuldades enfrentadas pela viúva de Gunnar Vingren. Frida, ao que tudo indica, realmente esteve muito doente e foi internada num sanatório, mas é intrigante saber que poucos irmãos da igreja iam visitá-la, e que depois de algum tempo ela "teve que padecer a acusação de alguns pastores" de que estava com "problemas mentais".

Ou seja, é perceptível que Frida era um problema, um peso, uma questão delicada para a igreja. A acusação de que estava com "problemas mentais" revela toda a indisposição do ministério sueco para com ela. Isso fica ainda mais visível no relato da família sobre a maneira discretíssima que Lewi Pethrus anunciou a morte de Frida na igreja, a qual foi feita após o término do culto, de forma lacônica. Segundo os filhos Ivar e Margit, eles esperavam que Pethrus pelo menos "falasse um pouco mais sobre a mãe deles no culto".

Ainda segundo o relato da família, a igreja Filadélfia cuidou do sepultamento de Frida, sendo ela enterrada no mesmo cemitério onde estava Gunnar. Então dessa forma, Araújo prova que a pioneira não foi enterrada como indigente, mas teve alguns cuidados em sua morte e sepultamento. Menos mal para uma pessoa que já era considerada morta socialmente para a comunidade de fieis.

Fontes:

ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2013.

MORAES, Isael Araújo de. Frida Vingren: uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

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